(Por Rafael Andrade Jardim – Editor ‘Mundo SPFC’) – Se existe um clássico que nunca sai de cartaz no São Paulo Futebol Clube, é o atraso de salário. Todo nós já assistimos a esse filme terrível, e não é uma superprodução cheia de reviravoltas.
Pelo contrário, trata-se de uma daquelas tramas previsíveis que passam na “Sessão da Tarde”: a diretoria promete resolver as finanças, os salários começam a atrasar, jogadores desmotivados caem de rendimento, a torcida se revolta, e no fim alguém dá um jeito de apagar o incêndio – até a próxima temporada, quando tudo recomeça. Só mudam os atores. Mas recentemente, a trilogia é estrelada pela dupla Casares & Belmonte.
O problema já virou tradição, só que uma daquelas que ninguém tem orgulho de carregar. O São Paulo, um clube que já foi sinônimo de organização e vanguarda no futebol brasileiro (pelo menos eu cresci nesta época), agora ostenta uma fama bem menos glamourosa: a de mau pagador.
O torcedor escuta que “dessa vez vai” e já sabe que, em poucos meses, outra notícia de pendência salarial vai pipocar nos noticiários. A promessa anterior era quitar tudo até dezembro de 2024. Mas estamos em fevereiro de 2025 e já há atrasos. Ou seja, é um problema crônico.
E o pior: a diretoria não aprende. Diz que está reorganizando as finanças, que está cortando gastos, mas as dívidas seguem firmes e fortes, como se fizessem parte do hino do clube. E quem paga o pato (não o jogador)?
Primeiro, os jogadores, que veem seu dinheiro demorar a cair na conta. Depois, a torcida, que precisa assistir a atuações burocráticas e sem brilho, sem saber se é falta de talento ou apenas insatisfação pelo salário atrasado.
Essa postura só queima o filme do clube com patrocinadores. Afinal, qual empresa quer associar sua marca a um time que vive com problemas financeiros? E as futuras contratações? Jogador nenhum gosta de ouvir que “o pagamento está garantido” quando o histórico recente mostra justamente o contrário.
A situação é tão recorrente que já virou motivo de desconfiança em todo jogo morno. Quando o time entra sem pegada, sem raça, a torcida já se pergunta: “será que não pagaram os caras de novo?”. E com razão. Afinal, se o clube não cumpre sua parte no contrato, por que os jogadores deveriam se matar em campo?
Enquanto isso, o torcedor segue na arquibancada, no sofá, no celular, enfim, sofrendo com derrotas inexplicáveis e promessas vazias. No fim das contas, a única certeza que se tem no São Paulo de hoje é que o atraso salarial sempre volta. Assim como aquele filme manjado da “Sessão da Tarde”.