(Por Rafael Andrade Jardim – Editor ‘Mundo SPFC’) – O São Paulo Futebol Clube está tentando trocar o pneu com o carro andando. É a analogia que faço. E, como qualquer um pode imaginar, isso nunca vai dar certo.
A realidade financeira do clube é desastrosa. Hoje, a dívida ultrapassa os 800 milhões de reais e só de juros anuais o clube desembolsa cerca de 80 milhões. É uma bola de neve que não para de crescer.
Para se ter uma ideia, o Flamengo pagou R$ 40 milhões no Pedro, atacante de nível de Seleção brasileira. Ou seja, damos ao banco dois Pedros por ano.
Enquanto isso, dos rivais diretos, Flamengo e Palmeiras, nadam em dinheiro, investem pesado em jogadores e se consolidam como potências do futebol brasileiro.
A última prova disso veio com a notícia de que o Palmeiras está pagando 150 milhões pelo atacante Vitor Roque. Sim, o Palmeiras gastando o equivalente a quase 20% da dívida total do São Paulo em um único jogador. Esse é o nível da disparidade atual.
A diferença entre as receitas também é gritante. O São Paulo arrecada menos em patrocínios, menos em cotas de TV e, consequentemente, tem menos capacidade de investimento.
Em um cenário onde Flamengo e Palmeiras faturam bilhões anualmente, o Tricolor segue estagnado, sem uma estratégia clara para reverter a situação. O problema? O clube se recusa a aceitar sua realidade.
O pior de tudo é que outros clubes, que hoje não estão tão distantes assim do São Paulo, estão caminhando para ultrapassá-lo. Cruzeiro, Bahia, Botafogo e Atlético-MG adotaram o modelo de SAF e, com dinheiro injetado por investidores, estão se estruturando para disputar títulos no futuro.
Isso significa que, além de continuar atrás de Palmeiras e Flamengo, o São Paulo corre o risco de ser ultrapassado por times que até ontem estavam atolados em crises piores que a nossa. E por que isso acontece? Porque o São Paulo não corrige sua rota.
O clube precisa, urgentemente, entender que não há mais como competir com esses clubes na base do improviso.
Não dá para continuar fingindo que temos poder financeiro para brigar de igual para igual, quando na verdade estamos sobrevivendo.
A diretoria, comandada por Júlio Casares e Carlos Belmonte, parece acreditar que ainda estamos nos anos 2000, quando tínhamos uma estrutura invejável e dominávamos o futebol nacional.
Mas isso ficou no passado. O São Paulo de hoje lembra um ex-milionário que se recusa a aceitar a falência, gastando mais do que pode na ilusão de que ainda está no topo. No nosso caso, uma ‘semi-falência’ que impede qualquer planejamento sério para o futuro.
É um erro gravíssimo seguir pelo mesmo caminho. Flamengo e Palmeiras, antes de dominarem o futebol brasileiro, passaram por momentos complicados. Em vez de insistirem em times caros e desorganizados, preferiram sanear suas finanças, reestruturar o clube e criar um modelo sustentável.
O Palmeiras, por exemplo, passou anos sem grandes contratações antes de se tornar essa máquina vencedora que é hoje.
Lembro bem de um caso logo na começa da gestão Paulo Nobre. Surgiu a informação de que o ex-jogador argentino Riquelme poderia ser contratado.
O então novo presidente vetou qualquer investida, justamente por questões financeiras. Lembro que até recebeu apelido de ‘Paulo Pobre’ (o que nada condiz com a realidade dele). O tempo provou quem estava certo.
Em paralelo, lá no Rio, o Flamengo, após um período de reestruturação iniciado em 2013 (à mesma época do Palmeiras), só colheu os frutos a partir de 2019.
Mas quando colheram, foi para valer. Vamos relembrar? O SPFC tinha 3 Libertadores, e o Flamengo 1 Libertadores conquistada nos anos 80. Passado uma década, seguimos com 3 Libertadores, enquanto o Flamengo nos igualou. O mesmo com o Palmeiras. E olha que se nosso rival paulista não tivesse vencido o carioca, estaríamos agora com menos Libertadores do que o Flamengo.
Enquanto isso, o São Paulo segue tentando ganhar títulos sem antes arrumar a casa. Resultado? Um clube preso em um ciclo vicioso de frustrações e crises financeiras.
A vitória na Copa do Brasil de 2023 foi incrível, mas não pode mascarar a realidade. O título veio mais pelo apoio incondicional da torcida e pelo brilho individual de Lucas Moura do que por uma mudança de mentalidade dentro do clube.
Discorda? O que aconteceu depois? Nada. Nenhuma evolução, nenhuma perspectiva de um novo momento de hegemonia. Apenas o mesmo padrão de sempre: falta de planejamento, elenco caro e desajustado, demissões de treinadores e uma diretoria que não enxerga a gravidade da situação.
É preciso coragem para mudar. O São Paulo não pode mais tentar tapar buracos enquanto se afunda ainda mais em dívidas. O foco tem que ser claro: reestruturação financeira, redução de custos e, acima de tudo, um planejamento sério para voltar ao topo de forma sustentável.
Não adianta gastar milhões em reforços se o clube não consegue pagar suas contas. Não adianta achar que vamos competir com Flamengo e Palmeiras – a lista vai aumentar nos próximos anos – sem antes resolver nossos próprios problemas.
Se nada for feito, o futuro do São Paulo será cada vez mais preocupante. A distância para os principais clubes do país vai aumentar, e o SPFC corre o risco de se tornar um coadjuvante de luxo, sempre tentando recuperar um passado glorioso que não existe mais.
Ou corrigimos a rota agora, ou vamos continuar rodando em círculos, esperando uma realidade que nunca vai chegar.
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