
(Por Rafael Andrade Jardim – Editor ‘Mundo SPFC’) – Tem coisa que só quem acompanha o São Paulo de verdade entende. E tem coisa que nem a gente, que vive isso com o coração, consegue explicar. O caso do Ryan Francisco é um desses mistérios que nem o mais cético dos torcedores consegue aceitar de forma racional. Um moleque de Cotia, decisivo, talentoso, com estrela — e completamente ignorado no time principal.
Ryan chamou atenção de todo mundo na Copinha deste ano. E não foi por qualquer jogadinha de efeito ou drible desconcertante, foi pela ousadia, pela personalidade, pela coragem. Na semifinal, quando o São Paulo estava atrás no placar contra o Criciúma, ele chamou a responsabilidade, foi pra bola — e não uma, mas duas vezes ele bateu de cavadinha. Duas cavadinhas numa semifinal, com o time perdendo! Isso não é só técnica, isso é gelo no sangue. Foi ali que nasceu o apelido: “Gelado”.
O título da Copinha veio, e junto com ele, como já vimos tantas vezes, veio a expectativa natural: “Esse garoto vai subir”. Subiu. E estreou como se fosse veterano. Jogo no Pacaembu, contra a Portuguesa, Paulistão começando, pressão… e o Ryan foi lá e fez o gol da vitória. Aquela estreia que a gente guarda com carinho e esperança: “Esse vai virar”.
Mas aí, como um daqueles roteiros mal escritos que só o atual São Paulo FC consegue produzir, o Ryan sumiu. Não sumiu do clube, nem dos treinos — sumiu das oportunidades. Nunca mais começou um jogo. Entrou em alguns minutos perdidos aqui e ali, como se fosse um improviso de última hora, um “vai lá e se vira”. Não fez mais gol.
Também, como fazer? Jogando cinco, dez minutinhos, sem sequência, sem confiança, com o técnico preferindo improvisar qualquer outra solução antes de olhar pro banco e lembrar que tem um cara ali que já resolveu quando o time mais precisou?
Eu não entendo o Zubeldía. Sinceramente. E não é birra. Não faço oposição ao treinador. Mas no caso do Ryan, ou ele tá vendo alguma coisa em treino que a gente não vê (e olha, teria que ser muito grave), ou ele simplesmente tem um bloqueio com o garoto. Um bloqueio que já passou dos limites do razoável.
Aliás, não é só com o Ryan. O discurso do Zubeldía sempre foi de que os jovens teriam espaço aos poucos, com calma, sem queimá-los. Ok, faz sentido. Mas por que então outros jogadores da mesma Copinha — com bem menos brilho — já foram testados, usados, reaproveitados, enquanto o Ryan segue sendo uma espécie de ilustre esquecido no banco? Cadê o critério?
Pra piorar, o momento do São Paulo é péssimo. O time até ganhou do Santos recentemente, mas convenhamos: foi na base da raça, da bola parada, da superação. Nada que indique uma virada de chave. E mesmo assim, com o elenco completamente esburacado por lesões de Lucas, Calleri e Oscar, nem assim Ryan teve chance real. Qual é o medo? O que o Zubeldía espera?
O futebol tem dessas: o “timing” é tudo. E quando o clube perde o momento certo de lançar um jogador, é difícil recuperar. O Lucas, o Antony, o David Neres, o Brenner… todos subiram na hora certa. Tiveram confiança, minutos em campo, sequência. Ryan teve o quê? Um gol contra a Lusa e um exílio silencioso no banco. É isso?
E aí entra o que me irrita mais: se continuar assim, a história tá escrita. O empresário vai arranjar uma proposta qualquer da Europa — Bélgica, Portugal, sei lá onde — e o São Paulo vai aceitar pra “fazer caixa”. E depois a torcida vai ver esse garoto arrebentando lá fora e se perguntar, mais uma vez: por que aqui ele não jogava?
Zubeldía, se me permite o desabafo (e mesmo que não permita, já está feito): se você cair, será lembrado como o técnico que segurou o time com fita crepe, mas desperdiçou um diamante no banco. Vai entrar na lista dos que perderam o timing por teimosia, por medo ou sabe-se lá por qual motivo.
Ryan não caiu na semifinal da Copinha. Não caiu na estreia no Paulistão. Mas está caindo agora, por não ter chance. E se cair fora do São Paulo, eu vou entender. Dois Ryans não caem duas vezes no mesmo lugar — e talvez o próximo lugar onde ele aterrissar seja onde vão dar a ele aquilo que mais falta no Morumbi hoje: confiança. E mais: Técnica, nem tanto; mas vontade faz diferença em um clássico. Clique AQUI para ver.
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