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Por Rafael Andrade Jardim

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MorumBIS: como vender a identidade a ‘troco de bis’

Foto: reprodução vídeo

(Por Rafael Andrade Jardim – Editor ‘Mundo SPFC’) – Desde criança, uma das minhas maiores emoções era avistar aquele letreiro vermelho ao longe. De dentro do carro, indo para o estádio ou só passando por perto, sabia que estava diante de algo que fazia parte da minha vida: o Morumbi.

A casa do São Paulo, um dos maiores templos do futebol brasileiro. O coração batia mais forte, a ansiedade aumentava. Só quem vive o clube entende o peso daquele nome brilhando lá no alto e ficando mais e mais próximo a cada passo.

Agora? Agora olho para aquele letreiro novo, sem alma, e sinto um misto de vergonha e tristeza. “Morumbis”. Um trocadilho forçado, sem peso, sem história. Um nome que já nasceu errado, esquisito, artificial. Parece nome de lanche, de doce, de qualquer coisa que não seja o estádio do São Paulo.

A venda de naming rights é algo cada vez mais comum no futebol brasileiro. O Corinthians fez, o Palmeiras fez, o Athletico-PR fez. É um movimento cada vez mais comum no futebol brasileiro. Mas o São Paulo? O São Paulo, gigante, tricampeão mundial, precisava mesmo fazer isso?

E mais: precisava vender por tão pouco?

Os números não mentem. O acordo com a Mondelez, empresa responsável pelo Bis, renderá ao clube apenas R$ 24 milhões por ano. Para efeito de comparação, o Flamengo negocia os naming rights de seu futuro estádio por R$ 1 bilhão em 25 anos – o que dá cerca de R$ 40 milhões anuais. E mais: o Mercado Livre pagará R$ 30 milhões pelo Pacaembu, que nem clube mandante tem!

Ou seja, o São Paulo vendeu um de seus maiores patrimônios por um valor menor do que um patrocínio de manga do Flamengo. Não estou exagerando: o rubro-negro carioca fatura algo parecido só com um espaço na camisa.

É revoltante. O dinheiro sequer muda a realidade financeira do clube. Se ao menos fosse uma bolada, um valor que transformasse o orçamento, até dava para cogitar. Mas R$ 24 milhões? Isso não paga nem metade do que a Superbet banca como patrocinador máster no uniforme, que já é pouco. É entregar o nome de seu estádio a troco de um bis (já que é para fazer trocadilho).

A diretoria argumenta que é um contrato curto, de apenas três anos. Mas isso só piora as coisas. Normalmente, contratos longos trazem descontos, justamente pelo tempo de exposição. O São Paulo, então, conseguiu a proeza de vender barato e por um período curto.

E, como se não bastasse, ainda veio a cereja do bolo: o letreiro horroroso. Em preto e azul!?

Antes, o Morumbi era imponente. Aquele nome gigante, vermelho, brilhante, era quase um farol para qualquer são-paulino. Um marco da cidade. Agora, o que temos? Um letreiro apagado, sem vida, sem identidade. Parece uma placa de publicidade aleatória, jogada lá em cima sem cuidado nenhum.

A desculpa da diretoria é que o estádio precisava dessa receita. Mas precisava mesmo? Se o São Paulo resolvesse problemas estruturais básicos do Morumbi, como os vazamentos nos encanamentos, era capaz de conseguir economizar uma quantia parecida. Quer dizer, em vez de consertar o que já existe, optaram por vender barato um patrimônio histórico.

E o pior: tudo isso foi feito sem qualquer diálogo com a torcida. Decidiram no ar-condicionado, assinaram o contrato e pronto. O nome do estádio que abrigou momentos inesquecíveis, de títulos, de conquistas, de glórias, virou um trocadilho comercial.

O Morumbi, pelo menos para mim, não é só um estádio. É um símbolo. Vender o nome dele, especialmente por essa quantia irrisória, é como vender um pedaço da alma do São Paulo. Um clube como o nosso, que sempre se orgulhou de ser diferente, de ser pioneiro, de ser referência, aceitou se nivelar por baixo.

Tenho esse mesmo sentimento pelas listras na camisa, pelas estrelas olímpicas, pelo CT de Cotia, pelo grito de ‘olê, Telê’ antes da partida, pelo uniforme que não muda. Isso tudo forma o DNA do clube que eu vivo.

O São Paulo já vendeu jogadores por preço de banana. Já desperdiçou dinheiro em contratações bizarras (e quantas, heim?). Já tomou decisões administrativas inexplicáveis. Mas essa, sinceramente, foi uma das piores.

No fim das contas, resta a saudade. Saudade do tempo em que o Morumbi era apenas Morumbi. Sem firulas, sem trocadilhos, sem marketing duvidoso. Apenas o Morumbi.

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