O futebol é um esporte de detalhes. Uma bola que entra ou sai por centímetros, um erro do árbitro, um momento de inspiração ou hesitação podem mudar o destino de um jogador, de um time, de uma era. Mas há algo ainda mais determinante do que tudo isso: o tempo. No futebol, mais do que talento, é preciso estar no lugar certo na hora certa. E poucos jogadores sofreram tanto com isso quanto Françoaldo Sena de Souza, o França.
O atacante maranhense foi um goleador nato, um camisa 9 completo, um finalizador letal. Marcou 182 gols pelo São Paulo, distribuiu assistências em profusão, decidiu incontáveis jogos. Mas jogou na época errada.
Se França tivesse vestido a camisa tricolor na era Telê, teria sido alimentado por Raí, Cafu, Leonardo e Müller, e talvez seus gols tivessem nos levado a mais conquistas internacionais. Se tivesse jogado sob o comando de Muricy Ramalho, teria recebido passes açucarados de Danilo, Jorge Wagner e Hernanes, e talvez tivesse brilhado em uma Libertadores. Mas o destino o colocou na década errada, num São Paulo que oscilava entre boas campanhas e fracassos, entre promessas e frustrações.
Era um clube que ainda vivia a ressaca do bicampeonato mundial de 1992 e 1993, mas que já não tinha a solidez para seguir conquistando. França, apesar de seus números impressionantes, não teve a mesma sorte de Careca, Raí ou Rogério Ceni, que ergueram troféus em momentos mágicos da história tricolor. Ele foi grande em tempos de vacas magras, quando o São Paulo parecia sempre ficar no quase.
E mesmo assim, ele foi inesquecível. Porque um grande jogador não se mede apenas pelo que venceu, mas pelo que fez dentro de campo. França marcou gols de todas as formas: de cabeça, de voleio, com dribles curtos, em chutes colocados. Era um atacante elegante e letal, um centroavante que poderia ter brilhado em qualquer época – e talvez tenha sido injustiçado por não estar na Copa do Mundo de 2002, vencida pelo Brasil.
Hoje, seu nome não está nas galerias de troféus do Morumbi, mas sua memória está no coração de quem o viu jogar. França foi um gigante numa era sem títulos, um herói silencioso que carregou o São Paulo nos ombros quando poucos queriam esse peso. E por isso, mesmo sem medalhas douradas, ele segue eterno para quem ama o Tricolor.
Nascido em 2 de março de 1976, na pacata Codó, no Maranhão, França trilhou um caminho que o levaria ao estrelato nos gramados paulistas. Chegou ao São Paulo em 1996, vindo do XV de Jaú, e rapidamente mostrou seu faro de gol.
Em seis anos vestindo o manto tricolor, participou de 323 partidas e balançou as redes adversárias 182 vezes, consolidando-se como o quarto maior artilheiro da história do clube até sua saída.
Os números impressionam, mas não contam toda a história. França atuou em uma época em que o São Paulo enfrentava desafios e não vivia seus anos mais vitoriosos. Ainda assim, conquistou dois Campeonatos Paulistas, em 1998 e 2000, sendo artilheiro em ambas as edições, com 12 e 18 gols, respectivamente. Além disso, foi peça-chave na conquista do Torneio Rio-São Paulo de 2001, novamente como goleador máximo, com 6 tentos.
Sua habilidade não se restringia apenas a marcar gols. França era conhecido por suas assistências precisas, demonstrando uma generosidade rara em centroavantes. Essa capacidade de servir seus companheiros o tornou um jogador completo e imprevisível para as defesas adversárias.
Apesar de seu talento inegável, França não esteve presente na Copa do Mundo de 2002, uma ausência sentida por muitos que acreditavam que sua presença poderia ter enriquecido ainda mais o elenco brasileiro. Ainda assim, ele vestiu a amarelinha em oito oportunidades entre 2000 e 2002, deixando sua marca com um gol em um amistoso contra a Inglaterra, em maio de 2000, no lendário estádio de Wembley.
Após sua passagem pelo São Paulo, França aventurou-se no futebol europeu, defendendo o Bayer Leverkusen, e posteriormente brilhou nos gramados japoneses com a camisa do Kashiwa Reysol. Em 2013, já aposentado, escolheu Tóquio como lar, distante dos holofotes, mas certamente com o coração ainda pulsando pelo futebol.
Hoje, ao revisitar sua trajetória, percebemos que França personifica o ídolo desconhecido: aquele que, mesmo sem o devido reconhecimento oficial, eternizou-se na alma tricolor. Seus gols, assistências e, sobretudo, sua dedicação em tempos difíceis, fazem dele um símbolo de paixão e entrega. E, para os verdadeiros amantes do futebol, isso vale mais do que qualquer troféu exposto em uma galeria.