(Por Rafael Andrade Jardim – Editor ‘Mundo SPFC’) – Se alguém me dissesse que um jogador de futebol poderia ser a personificação do Sandoval Quaresma, eu daria risada. Mas aí eu comecei a assistir Ferreirinha no São Paulo e a analogia ficou irresistível.
O ponta-esquerda é uma máquina de criar jogadas incríveis, um espetáculo ambulante de dribles e arrancadas, mas quando chega a hora de concluir… bom, é exatamente nesse momento que tudo desmorona.
Desde que chegou do Grêmio, Ferreirinha já me arrancou alguns aplausos e incontáveis suspiros de frustração.
A cena já virou clichê: ele recebe na ponta, acelera, entorta o marcador, avança com a bola dominada e, quando tem a chance de finalizar e correr para o abraço, acontece o inacreditável. Um chute para fora, um escorregão, uma escolha bizarra. Como se na fração de segundo entre a jogada brilhante e o gol, ele simplesmente apagasse.
Foi assim nas quartas do Paulistão contra o Novorizontino. O lance tinha tudo para ser um golaço de placa. Ferreirinha arrancou, driblou um, dois, três, quatro adversários e… jogou para fora. Meu Deus, como? Se ele tivesse tocado para alguém ou tropeçado no próprio pé ainda haveria uma explicação. Mas não, ele conseguiu fazer tudo certo até a parte final, e aí, como um roteiro já escrito, errou.
Confesso que quando o São Paulo anunciou sua contratação, fiquei curioso. Lembrava dele bem no Grêmio, um jogador rápido, insinuante. Mas se ele era tão promissor, por que o Grêmio liberou para um rival direto? Por que ele não estava indo para a Europa? Bastaram alguns jogos para eu entender.
Ferreirinha é aquele carro que você compra barato e depois descobre que tem um problema crônico. Anda bem, responde, parece confiável… mas é só precisar dele numa viagem longa que o motor começa a falhar.
E aí voltamos ao nosso querido Sandoval Quaresma. Os mais velhos vão lembrar do personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Ele respondia corretamente todas as perguntas até o momento final.
Mas quando o professor Chico Anysio anunciava a última, aquela que valia o dez, era como se um alarme disparasse na cabeça do Sandoval: agora é hora de errar. E errava, sem exceção. Assim é Ferreirinha. Ele cria, faz tudo certo, mas na hora do “dez”, na hora do gol, algo dá errado.
A solução? O óbvio seria dizer que ele precisa treinar finalizações. Mas você acha que ele não treina? Acha que todos os técnicos que passaram por ele nunca tentaram resolver isso? Então, qual é o problema? Meu palpite: ele treina reforçando os erros. Talvez falte um treinamento específico, algo que desenvolva a tomada de decisão. Porque tecnicamente, fisicamente, ele já tem tudo.
E é um desperdício de jogador e para o time. Porque com o elenco que tem, Ferreirinha poderia muito bem fazer uma linha de 3, com ele (E), Oscar (C) e Lucas (D), com Calleri à frente.
Mas com sua falta de capacidade na ‘última pergunta’, vai ser sempre esse jogador de segundo tempo; jogador para quando precisa de correria; jogador para puxar contra-ataque. E isso é pouco para ele.
Aos 27 anos, Ferreirinha ainda pode se reinventar. Se acertasse metade das jogadas que cria, estaria disputando vaga na Seleção. Mas se continuar treinando do jeito tradicional, seguirá sendo lembrado como esse jogador paradoxal, que faz tudo certo… até a hora do dez, até a hora do gol.
Talvez precise ter treinamentos específicos, treinamentos de reflexo, de lógica, sei lá, algo que desenvolva não seu chute ou seu passe, mas que o faça evoluir na questão de tomada de decisão.
Cabe, então, à comissão técnica, a Muricy, a Milton Cruz e cia. que tenham uma vontade maior de evoluir esse jogador e deixem de ser apenas ‘Professor Raimundo’, dando zero e chamando o próximo aluno.
Segue nas redes!
X (Twitter)
Facebook